Falamos da fome nos primeiros tempos do cristianismo, falamos da fome nos tempos atuais porque ela está presente em nosso pais e no mundo.
Os padres da Igreja, primeiros teólogos do cristianismo, conheceram a realidade da fome em suas comunidades de modo que a descreveram como a maior das desventuras humanas, porque como hoje e ontem havia a falta de partilha e de solidariedade para com as pessoas famintas. Milhares de pessoas passam fome devido aos motivos sociais diversos. Existem iniciativas seja pela sociedade em geral, seja pela Igreja para amenizar o problema da fome no mundo. Por isso a fome é uma realidade que perdura aos nossos tempos, nos quais poderia haver a sua superação se houvesse maior amor entre as pessoas e os povos.
Um desses foi São Basílio Magno, Bispo do século IV, de Cesaréia, na Turquia que dizia que a fome é uma enfermidade espantosa; representa a maior das desventuras humanas; de todas as mortes, o fim mais miserável de todos, pois leva em sí um mal lento e um sofrimento prolongado; ela faz desgastar gradualmente as forças. No dia do juízo, o Senhor convida os justos a ocupar os lugares, porque foram pessoas caritativas; os primeiros são os que deram de comer; dar o alimento ao irmão. Dás um pouco e ganharás muito.
Já São Gregório Nazianzeno, Bispo do Século IV, afirmava no discurso teológico XVI, PG 35, 957-960. “Alguns de nós oprimiram o pobre, a viúva nos seus direitos, nas suas terras, exploram o próximo. Os ricos constroem magazines e enchem de coisas, pensando de viver bem assim. Nas suas casas tem coisas que roubaram dos pobres e assim diziam: Bendito o Senhor, porque tornamo-nos ricos, pensando ilicitamente de ter riquezas daquele pelo qual serão punidos”?
Temos também São João Crisóstomo, Bispo de Antioquia, final do século IV e início do século V, na Homília sobre a Esmola PG 51,2619, encontramos as seguintes afirmações: “Enquanto passei na praça eu vi pobres, desempregados. Muitos que não tinham o necessário para viver. No verão vivem bem; mas na estação do inverno passam a fome e o frio; eles rendem-se como mortos”.
Falamos da fome nos primeiros tempos do cristianismo, falamos da fome nos tempos atuais porque ela está presente em nosso pais e no mundo. É a maior das desventuras nas quais devemos enfrentar com meios que o pais possui e alimentação para todas as pessoas. Na verdade não existiria famintos se houvesse a solidariedade entre as pessoas e os povos, porque alimentos existem e meios para a superação da fome. Deste modo a realidade da fome pode colocar o Brasil ainda nesta lista dos famintos no mundo. Nesses dias, um caso deveria chamar maior atenção na realidade brasileira. Ainda que a imprensa deu algum destaque para à criança que estava com fome, de modo que girou essa notícia mais pelos meios eletrônicos, perto de Brasília, numa escola pública, um menino desmaiou por causa da fome. O SAMU foi acionado e constataram que não havia outra coisa ou doença senão a falta de comida. Algumas autoridades lamentaram o ocorrido, mas a constatação da fome está rodeando o pais que está passando por uma crise econômica, política e social, tentando a sua superação. Enquanto os meios econômicos que deveriam ir para a educação são desviados muitas vezes, uma criança desmaia com fome perto dos palácios. As autoridades olhem com carinho e amor os pobres e famintos. É preciso refletir que o Brasil pode estar voltando ao mapa da fome. É preciso políticas públicas que favoreçam os pobres para que casos como esses não voltem a acontecer num pais que exporta milhões de grãos para outros países enquanto o seu povo passa por necessidades. Ele se orgulha pelo agronegócio na qual todos os dias aparecem propagandas de muitos alimentos mas o seu povo pode passar pela fome, pela falta de alimentos. Por ocasião do Natal há uma sensibilidade de partilha de alimentos e de roupas que favorecerão os pobres e os famintos. Jesus Cristo nasce hoje no coração das pessoas e dos povos. O Deus Uno e Trino seja louvado pelas ações humanas, comunitárias, eclesiais que possibilitem vida digna para todos sobretudo na ajuda de alimentos para as pessoas famintas e pobres, amenizando desta forma a fome no nosso pais e no mundo.
Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá (PA)